Antes de tudo, queria te fazer um convite. Se você for do Rio de Janeiro, essa sexta dia 12 eu vou fazer um show de improviso na casa da comédia. Lá em baixo falo melhor disso.
Boa Noite tá começando... Não, não é isso não. É bom dia é esse aqui é mais um e-mail do Nigel e eu tô ditando ele no celular que tá transcrevendo tudo isso.
E eu escrevo meio rápido. Não digito, mas escrevo rápido. Vou, volto, mudo aqui e ali e a coisa vai saindo. Até então, não ganhei velocidade nenhuma fazendo isso. Na verdade, está muito mais devagar e eu ainda preciso corrigir tudo que eu ditei, no mínimo a pontuação.
A única coisa que isso daqui ajuda é a ficar com essa esse texto como se fosse um fluxo de consciência, porque é exatamente isso que eu tô fazendo. Eu tô ditando e tá saindo o texto.
Aí você me pergunta: por que que eu tô fazendo isso? Bom, eu queria testar para ver se isso daqui é um jeito útil de fazer um primeiro rascunho de algum texto enquanto eu passeio com a cachorra, por exemplo.
Às vezes, tenho alguma ideia quando estou caminhando e não dá para anotar. Desse jeito eu acho que consigo escrever a ideia inteira e, depois, olhar para ela no computador e transformá-la em alguma coisa. Porque dificilmente adianta escrever uma frase curta pra lembrar depois. Normalmente, as ideias vêm como um pedaço de uma cena, um diálogo, alguma piada, alguma coisa. E, se nessa hora eu for cutucando, acaba vindo mais coisa. Entre anotar em poucas palavras ou esquecer tudo e pensar em outra coisa depois, eu acho menos frustrante pensar em algo novo.
Bom, resolvi testar isso aqui para fazer esse texto. E não só esse texto de introdução, mas o conto dessa newsletter. Vou tentar fazer ele desse jeito e, depois, conto o que achei do processo inteiro.
Roupa Velha
Certo dia, em uma tentativa de viver uma vida mais sustentável, Alberto decidiu que não produziria mais lixo algum, e isso incluía o descarte desnecessário de suas peças de vestuário. Alberto não jogaria mais fora suas roupas, optando por remendá-las e repará-las quando necessário.
O consumismo desenfreado promovido pela indústria da moda era algo que o preocupava tremendamente, e Albert havia jurado a seu santo protetor que jamais, em hipótese alguma, compraria uma roupa sem haver real necessidade.
— Pessoas têm o costume de se livrar de roupas perfeitamente boas — ele disse para suan colega de trabalho, que havia reparado que Albert estava há cinco dias com a mesma roupa. — uma cueca por exemplo pode ser usada por uma vida inteira.
— Mas precisa ser direto. Não pode tirar para lavar?
— Claro que pode, mas você sabia que lavagens em excesso reduzem a vida útil de uma roupa?
Alberto estava repetindo suas roupas porque, assim que fez sua promessa, ainda excitado com sua ideia sustentável, separou várias roupas para doação. Uma péssima ideia para alguém que prometeu jamais comprar outra roupa.
O primeiro ano dessa promessa até que foi fácil, sem muitos problemas. Mas quando os primeiros puídos foram aparecendo, os primeiros rasgos nos joelhos tiveram que ser remendados, os primeiros buracos de traça tiveram que levar pontinhos decorativos, Albert começou a passar maus bocados.
A cada reforma, ficava mais difícil deixar suas roupas parecendo algo socialmente aceitável. Sua época perfeita do ano passou a ser junho e, quando perdeu seu primeiro emprego, foi em junho do ano seguinte que conseguiu outro.
De caipira estereotipado, ele já estava se vestindo com as roupas que um espantalho usaria se tivesse que pintar um muro na fazenda. Mas eram roupas que estavam perfeitamente boas para aquilo a que se propunham, que era proteger o corpo do frio e da sujeira, e esconder as partes que ninguém gostaria de ver assim, sem um joguinho, sem a sensação da conquista.
Depois de algum tempo, Albert começou a se questionar sobre os tecidos que usava para reformar suas peças. Será que ao comprar um metro de tecido para refazer os fundilhos do seu jeans, ele não estava sendo hipócrita? Comprar a calça, comprar o tecido e fazer a calça, era tudo a mesma coisa.
No seu próximo remendo, Albert recorreu a uma toalha. Parecia desonesto usar um lençol.
Aos poucos, foi se afastando do espantalho e se aproximando dos personagens de peças infantis: os vilões, que usavam qualquer trapo e chamavam de figurino.
Seus vizinhos achavam que ele era um palhaço desempregado. Muito porque ele era uma pessoa de maneiras exóticas e com um certo senso de humor. Desempregado porque ele se vestia como uma pessoa que estava morando na rua há anos. Teve inclusive um vizinho que percebeu que não era tão rico quanto achava porque dividia o andar com alguém tão maltrapilho.
E agora ele também fedia, porque acreditou em um desodorante natural que viu na internet e prometia equilibrar a flora bacteriana da pessoa, mas desde que ela não usasse mais sabão.
— Você sabia que banho em excesso desequilibra a flora bacteriana de uma pessoa? — ele perguntou para a sua colega de trabalho, ou melhor, ex-colega de trabalho, já que ele estava trabalhando como estátua humana em uma praça e ela cometeu o erro de jogar uma moeda por pena, dando a ele a oportunidade de falar.
Até que ele finalmente morreu. Alberto foi alvejado por um segurança noturno que o confundiu com uma criatura folclórica, o que foi prontamente aceito pelas autoridades.
Alberto morreu e sua família o enterrou de terno e, o pior de tudo, novo.
Achei o processo meio cansativo, mas funcionou melhor do que eu esperava até. Usei o reconhecimento de voz do google no teclado do celular (foi bem melhor que o da Samsung, que era mais lento e errava mais). Aí o que me fez não desistir foi o seguinte: a ia que corrige gramática que apareceu na última atualização do celular. Como o texto vinha todo sem pontuação — até dá pra ditar ponto e vírgula, mas me atrapalhava muito — o corretor ortográfico IA ia lá e acertava o lugar da pontuação, e colocava as maiúsculas. E tudo isso foi só o rascunho, depois eu voltei no texto (e na introdução) e reescrevi algumas partes, mudei coisas etc. Bom saber que essa opção funciona pra quando escrever for complicado.
Eu abri o email falando que dia 12 de julho vou estar na Casa da Comédia no Rio de Janeiro fazendo um show de improviso e eu queria muito que você fosse.
É um show que eu queria fazer há muito tempo. Mistura alguns jogos de improviso com cenas mais longas. Tudo como se a peça fosse um canal de televisão bem meia boca da TV aberta. Pessoas revelam segredos, repórteres enchem linguiça ao vivo, especialistas falam abobrinhas e sempre tem uma nova novela passando.
Essa vai ser nossa terceira apresentação e qualquer uma delas pode ser a última — eu tô indo de Jundiaí pro Rio só pra isso. Não é a melhor peça que você vai ver na vida, mas eu tenho me divertido bastante fazendo e acho que tem grandes chances de você se divertir também. Na verdade, quanto mais gente afim de se divertir, sugerindo coisas inesperadas e interagindo com a gente, melhor fica o show.
É essa sexta, 12 de julho, 21h30. Você pode comprar ingresso aqui, ou na bilheteria.
Meu livro “Entrevista com a Pedra” está à venda na amazon em formato de ebook e o primeiro conto se chama “Entrevista com o vampiro”, que eu soube que está na moda.
A nova temporada de Irmão do Jorel foi anunciada no Rio2C. Se liga nesse trailer.
A segunda temporada do Portugal Show já está passando no Multishow também. Acho que é segunda e quinta de noite.
Eu uso o Fastmail como serviço de email. Gmail ficou só pros spams e cadastros com login e essas coisas, e pro email pessoal e de trabalho eu uso o fastmail. (obs. nesse link você tem algum desconto e eu ganho alguma coisa se você assinar o plano.)
Eu fiz uma casa de passarinho com o meu filho e ele disse que esse ia ser o nosso trabalho, vender casas de passarinho. *não estou vendendo casas de passarinho.
Acho que é só isso,
Um abraço,
Nigel
Só hoje já tomei dois banhos
Achei style. Vou aderir